Poesia

Written by magali 3 comentários Posted in:

Poema à mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras
que te digo são duras,
mãe, e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."

Mas - tu sabes! -
a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...

Eugénio de Andrade

É uma das minhas poesias preferidas.
Muitos beijinhos!
Magali

3 comentários:

  1. Banita

    Que lindo!Já o mostraste à mãe?
    beijos doces para ti

    quarta-feira, dezembro 10, 2008
  2. Luísa Vaz Tavares

    Também gosto muito deste poema e gostei do teu blog em geral.
    Parabéns.

    quarta-feira, dezembro 10, 2008
  3. Anónimo

    Olá Magali,
    Este é um poema lindíssimo de Eugénio de Andrade; um poema reflexão!

    Saudações e um sorriso

    sábado, dezembro 13, 2008